quinta-feira, agosto 5

Amianucam


Ana Maria Nacinovic, heroína do povo brasileiro


Sempre me incomodou a sina do herói sem nenhum caráter.
Fui criado ouvindo falar de Ganga Zumba e de Zumbi. A família Sarmento, de minha mãe, vem lá de União dos Palmares, no sopé da Serra da Barriga, onde se formou o Quilombo que durou mais de seis décadas resistindo aos portugueses. Pequenino, ouvia em União histórias de lutas e resistências. Histórias que povoavam a imaginação infantil, principalmente à noitinha, deitado, esperando o sono, observando o candeeiro dar vida às ranhuras e buracos das paredes rústicas, com sua luz bruxuleante. Rachaduras viravam trincheiras; riscos, guerreiros em movimento de ataque e defesa; manchas, caravanas de negociantes dos tempos de paz e diplomacia.
Mais tarde, meu pai inventou o Menino de Bagdá. Transportava-se no tempo, fazendo-se presente onde alguém precisasse de seu apoio nas lutas contra os mais fortes. Essa liberdade de movimento servia também para ajudar papai quando, vencido pelo sono, parava de contar e eu ou minha irmã reclamávamos. Ele recomeçava em outro século, um novo continente, e malvados diferentes. Não tinha problema, o Menino de Bagdá estava pronto para correr de uma para outra aventura, sem quebras incômodas de continuidade.
Um dia conheci Macunaíma. Que descoberta! Um herói brasileiro, que vivia como gente que eu conhecia. Meu tio Diogo era um deles. Livro cheio de humor, instigante, quebra as expectativas, rompe com a realidade, um lindo exercício de literatura.
Pois é, um belo livro. Uma grande obra. Mas o que é que me incomoda? Será a tendência a transformar o caráter do herói sem nenhum caráter em caráter do povo brasileiro? Deve ser. Mas a quem interessa isso?
A quem interessa que os brasileiros se convençam que somos um povo que só pode viver uma grande piada, cheia de preconceitos étnicos, de gênero, de aparência, nacionalidade e outros. Sendo uma piada, não seremos uma nação. Não saberemos nem resistir ao opressor, pois nosso herói prefere levar vida mansa. Como dar a vida por uma causa, se não temos nenhum caráter e usamos nossos saberes e talentos para levar vantagem?
Ainda bem que não é assim. Zumbi, Tiradentes, João Cândido, Antonio Conselheiro, Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Mário Alves, Apolônio de Carvalho, Gregório Bezerra, Luiz Carlos Prestes, Carlos Lamarca, Olga Benário, Ana Maria Nacinovic, Iara Iavelberg, Aurora Nascimento Furtado, Soledad Barret Viedma, Sonia Moraes, Ísis Dias de Oliveira, Gastone Lúcia Beltrão, Maria Augusta Thomaz e milhares de outros, contam uma história diferente.
Contam uma história de lutas, de propostas, de construção, de resistência, de capacidade de adaptação, de criatividade e tolerância. Os brasileiros resistiram desde sempre.
Então, vamos deixar Macunaíma no seu lugar de grande livro, que deve ser lido e usufruído, mas não vamos cair na armadilha de propagar esse mito de que o povo brasileiro é um povo sem nenhum caráter.
Na vida, somos o povo de Amianucam, herói de muito caráter, daqueles que dão a vida, que lutam até a morte pela liberdade, pela igualdade, pela fraternidade, e pelo socialismo. Lutam para abolir a exploração do homem pelo homem, é coisa séria, digna do povo brasileiro. Povo Amianucam.

Carlos Eugênio Clemente – 4019
Combatente da Guerra e da Paz

quarta-feira, agosto 4

O candidato da esquerda


Lá pelas tantas, na festa, o Rafton bradou: “a esquerda tem candidato!”
Com sua capacidade de síntese, ele acabou definindo um dos slogans da campanha. Temos que juntar nosso povo, a esquerda, e partir para conquistar mais eleitores, porque precisamos de 50.000 votos, quantia difícil de atingir, quando não partimos de um mandato anterior.
Mais do que um slogan é uma proposta política e um compromisso. É possível aglutinar forças a partir das posições da esquerda, fazendo alianças que não firam nossos princípios e propostas.
A questão democrática é essencial, e norteará toda a campanha.
Vivemos numa democracia domesticada. Definição que não é minha, mas com a qual concordo. Vem de um texto primoroso de Luis Felipe Miguel, que sempre recomendo por onde ando. Fazendo uma licença política, ela é domesticada porque não atende às reivindicações do povo inteiro e é instrumento de dominação das classes que detêm o poder. Marighella propunha ao Brasil uma democracia popular e considero que o caminho para chegar lá, hoje, é aprofundar e radicalizar o atual sistema.
A democracia que defendemos não é somente poder votar a cada dois anos. Precisamos democratizar os meios de produção, os meios de governo, a educação, a saúde, a habitação, a propriedade da terra, a ciência e a tecnologia, e a cultura. A democracia deve permear as relações humanas, por isso a tolerância com as diferenças de etnia, gênero, opinião e aparência, é fundamental, e palavra de ordem da esquerda. O respeito ao planeta e a democratização das decisões acerca de tudo que o agrida, também é consigna e prática nossa.
Somos coletivistas, não individualistas, mas conhecemos a importância das liberdades individuais desde o século passado, ensinamento adquirido com a análise das experiências de construção do socialismo.
Temos tarefas para muitos anos e muitas trincheiras.
Por isso, Rafton, aceito a tarefa de ser o candidato da esquerda, valeu pelo toque.

Carlos Eugênio Clemente – 4019
Combatente da Guerra e da Paz

segunda-feira, agosto 2

O dia seguinte

 Eu e minha companheira Maria Cláudia
A caminhada não começa agora, ela vem de longe, mas depois de uma festa como a de ontem, sempre é bom lembrar que hoje é preciso dar mais um passo.

Além do apoio que os presentes trouxeram, várias conversas e intervenções colocaram questões que levam à reflexão. Nada melhor do que compartilhar com todos os que estão na campanha.

“Como vamos nos estruturar?”, lançou meu querido Sérgio Campos.

Temos uma infraestrutura de pequeno porte, mas que funciona. Por isso, é preciso aperfeiçoar cada passo. Nossa geração criou os “pequenos grupos de homens e mulheres” que, usando de extrema audácia, iniciativa e criatividade, organizaram uma resistência armada à ditadura. Aproveitemos isso. Sem esperar convite, peço aos companheiros que se organizem como dantes, e tomem a iniciativa de organizar núcleos de campanha.

Organizar, por exemplo, o que chamo de comitês domésticos. Vinte ou trinta pessoas convidadas por amigos, se reúnem, assistem a um vídeo que já introduz a discussão da campanha e do mandato, e conversam francamente sobre as convergências e divergências, sobre as propostas políticas e os passos a dar para enriquecer o movimento.

Nossa campanha tem que ser isso, um movimento. Que se espalhe por onde for possível, agregando as dobradas com companheiros candidatos a estadual, ou postulantes à vereança daqui a dois anos. Não podemos nos restringir aos conhecidos, devemos ampliar, sempre mantendo intactos nossos princípios, não podem ficar dúvidas.

É caro montar vinte comitês pelo Estado do Rio? Esses comitês domésticos podem fazer muito mais e os custos são menores. E é também uma maneira de diluir os mesmos custos, através da contribuição direta de quem convida, contando com a participação dos convidados.

Minha agenda está com a Melanie, nos telefones:

• (21) 2215-4252

• (21) 2524-0112

Faremos periodicamente uma reunião para checagem e discussão dos rumos. A próxima será no meio de agosto, em data e local a serem definidos até domingo que vem, dia 08/08/2010.

Nossos contatos:

• carloseclemente@gmail.com

• http://eugenioclemente.blogspot.com/

• http://www.facebook.com/carloseclemente?v=wall

“Temos que sair daqui com coisas concretas”, propôs a companheira Ilma.

A única maneira disso se tornar realidade, é cada um começar a agir a partir de hoje, tomando a iniciativa e relembrando o Mariga: “A ação faz a vanguarda.”


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