segunda-feira, setembro 27

O Véio e o Comandante Dourado

Felipe Cambraia e Adalto Dourado


Um dia eu dava aula de violão numa das salas da escola, quando o Véio entrou afobado, me chamou na porta e sussurrou:

- Dom, tem um cara aí fora falando que foi da luta armada e que quer falar com o Comandante Clemente. Precisa ver os olhos arregalados da mãe do aluno, véio...

- E o nome dele, Véio?

- Sei lá, Dom, fiquei tão aflito que nem entendi direito, vim logo avisar. Que é que eu faço Dom?

- Vai lá e diz pra ele que já vou terminar a aula, faltam dez minutinhos, só.

Terminei minha aula, o Véio entrou de novo, menos apavorado e mais curioso.

- Dom, penduraram o cara num helicóptero, cobriram ele de pancada, quase mataram. Ele diz que é seu companheiro da Frente Armada, da resistência contra a ditadura.

- E o nome, Véio?

- É Dourado, Comandante Dourado.

- Tá em casa, Dourado aqui está sempre em casa. E quanto às mães de aluno, fique frio, é sempre bom elas ouvirem um pouco de História do Brasil.

Lá fui eu tomar um café com meu companheiro e amigo Adalto Dourado, da Var – Palmares, inteligente, culto, impulsivo e desafiador.

Com a palavra Adalto Dourado, comandante da Var – Palmares durante os duros anos depois de 1970, que pouca gente pode contar.



"Pretendemos focar a nossa abordagem naqueles tempos de heroísmo, de resistência, de uma luta desigual, que não tinha a mais remota chance de vitória, mas que legou para a história exemplos de dignidade e coragem dos personagens nela envolvidos.

Aquela foi uma época gloriosa em que valia a pena lutar e se sacrificar por uma causa nobre, a liberdade. Todos os dias antes de sair do aparelho (as casas onde vivíamos), a gente olhava tudo, rememorava tudo e tinha a sensação de que talvez não mais ali voltasse. Todos os dias tínhamos que nos preparar como se estivéssemos marchando para uma batalha decisiva de vida ou de morte. Todos os dias tínhamos que nos sentir como se fôssemos os próprios guardiões dos portões de Roma, quando a devastadora cavalaria do exército cartaginês se aproximava do Coliseu. Ocorreu, que na medida em que ficávamos mais distanciados das organizações da sociedade, isolados e acuados, os militares da repressão avançavam céleres e implacáveis. De forma que ficamos numa situação comparável à dos combatentes do general George Armstrong Custer, quando a 7º cavalaria foi encurralada e dizimada no vale do Little Big Horn, pelos bravos e furiosos guerreiros comandados pelos caciques Touro Sentado, Galia, Cavalo Doido.

Eu vivi aquilo tudo, o Clemente também viveu. Hoje usamos essa experiência dos tempos de guerra para combatermos com as armas da paz. A luta é a mesma: pela democracia, por liberdade, igualdade e fraternidade.

Finalizando conclamo a elegermos o comandante Clemente com uma votação expressiva, porque no Congresso Nacional Clemente será a voz dos que não têm voz nem direitos.

Adalto Dourado de Carvalho”



Depois do café com Dourado, um papo com o Véio. Para explicar para ele quem era Dourado. Falei não de seus sofrimentos, mas de sua luta. Não de suas feridas, mas de sua generosidade. Até hoje o Véio pergunta por Dourado e conta suas histórias entre um show e outro.

Assim foram se juntando o mundo da guerrilha e o mundo da música.

• Abaixo a Ordem dos Músicos do Brasil;

• Direitos Trabalhistas para os músicos;

• Planos de aposentadoria específicos para a classe;

• Aulas de música nas escolas públicas com professores bem remunerados;

• Liberdade, igualdade e fraternidade.



Para mim é uma honra ter na minha campanha Felipe Cambraia, músico, baixista, aluno, colega e amigo, e Adalto Dourado, companheiro de armas, amigo e agora companheiro de campanha.



Carlos Eugênio Clemente – 4019

Combatente da Guerra e da Paz

Com alma de músico

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