sábado, agosto 14

Lançamento do jornal Rede Democrática


Foto: Wilson Monteiro


O lançamento do jornal Rede Democrática se dá no momento em que volta à baila a discussão da anistia. Sim, o que estão discutindo, na verdade, é a anistia mesma, e não possíveis distorções que tenham acontecido no cumprimento das leis. Sabemos que se fosse esse o caso, o assunto seria tratado de outra forma, afinal estamos em pleno exercício do estado de direito. Regulamentações existem que permitiriam a análise de casos considerados abusivos sem que disso se fizesse uma questão política.
Na sexta-feira 23 de julho, o Presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, publicou um artigo no Globo, “Anistia e Reparação”. Nele, uma colocação importantíssima:
• “A anistia é um ato político onde reparação, verdade e justiça são indissociáveis”.
É assim que entendemos a anistia, e por isso vamos lutar. Agora é hora de apoiar Paulo Abrão e divulgar a Nota Pública da Comissão de Anistia. Em e-mail aos Inquietos, agradecendo o apoio valioso do companheiro Roberto Espinosa, Paulo chamou a atenção para a realização do 4º Seminário latino-americano de anistia e direitos humanos em Brasília, nos próximos dias 16, 17 e 18 na câmara dos deputados. Vamos divulgar e comparecer.
Esses fatos vêm se juntar a outros que vale a pena lembrar:
• Homenagem de uma turma de formandos da Aman ao ditador Emílio Garrastazu Médici;
• Loas proferidas ao golpe de estado de 31 de março de 1964 por militares inativos e da ativa;
• Reação dos militares e da direita civil ao PNDH-3, causando um retrocesso no processo político;
• Campanha sistemática contra nossa candidata à Presidência da República Dilma Roussef, distorcendo fatos de nossa História recente, tentando dar cunho negativo à resistência armada ao arbítrio instaurado em 1964.
Contra tudo isso, é que precisamos construir uma rede democrática que atue para aprofundar, radicalizar e defender as liberdades conquistadas nas ruas de nosso país.
O jornal Rede Democrática nossa campanha e o mandato que conquistaremos no final, estão a serviço dessa causa, por isso tenho repetido que aprofundar e radicalizar a democracia são hoje nossa tarefa revolucionária.
Vamos nos reunir no Severyna com esse espírito.
Domingo, dia 15 de agosto às 18h00min, na Rua Ipiranga 54, lançamento do jornal Rede Democrática, mais um passo na construção dessa rede que se faz necessária.

Carlos Eugênio Clemente – 4019
Combatente da Guerra e da Paz

Um comentário:

Maria Cláudia disse...

Devemos sim apoiar a reparação do Estado a todas as vítimas da ditadura civil-militar, passo importante em direção ao aprofundamento da democracia. Muitos militantes já estavam em poder do Estado, quando foram levados para OBAN, DOI-CODIS, Delegacias de polícia ou para sítios clandestinos. O Estado brasileiro tem então, responsabilidade sobre a vida e a morte desses militantes, sobre seus destinos, sobre a violação de seus direitos como pessoa humana, sobre a tortura que lhes foi impingida como forma de obter confissões. A própria denúncia da tortura sofrida por militantes em raríssimos casos consta nos arrazoados da lei da época ou chegou a ser verificada. Nenhum exame de corpo de delito foi realizado, e quando o foi, muito tempo já havia se passado para que as marcas de torturam aparecessem. A repressão aprendeu, entretanto, a não deixar marcas com o tempo, uma toalha molhada, um afogamento, um fuzilamento na calada da noite com notícia estampada no jornal do dia seguinte relacionada à violência do tráfico, bastariam para explicar todos os “excessos “ cometidos. Estavam mesmo interessados em dar explicações, em dizer o que acobertavam nas salas de tortura, quando abafavam os gritos de dor desses jovens nas câmaras de tortura hermeticamente fechadas? Claro que não. A ditadura civil-militar conseguiu antes, criar uma ferida muito mais longa e difícil se cicatrizar quando quis varrer para debaixo do tapete seus crimes, impedir que a verdade desse passado viesse à tona, e que os arquivos da ditadura fossem abertos. Pena que algumas pessoas acreditam nas “verdades” dos generais fardados, quando corroboram as práticas ilegais desse governo impedindo que o Estado, pela primeira vez na história de nosso país, peça desculpas em público pela violência que cometeu a jovens destroçados física e mentalmente, às famílias destruídas, e que por anos ainda esperam, por falta de informações, o retorno de seus filhos desaparecidos. Grande parte dos processos da Justiça Militar, e é preciso que se diga, foram forjados pela repressão para dar aspecto legal à ilegalidade da ditadura. Muitas pessoas foram presas sem mandado de prisão, perseguidas, tiveram suas casas invadidas, viram-se na iminência de perderem seus trabalhos, quando não o foram impedidas de continuarem seguindo suas vidas pessoais e profissionais. A ditadura militar tentou tipificar crimes, lançando mão da Lei de Segurança Nacional, para acusar todos os militantes políticos de praticarem a guerra revolucionária. Qual foi evidentemente essa guerra, quando todos já estavam cercados e cerceados em seus direitos mais básicos? O combate foi legítimo para todos aqueles que corajosamente estiveram na linha de frente dos confrontos armados, pois abraçaram generosamente a luta pelo fim do regime militar, lutando também por um país de mais oportunidades e discutindo propostas de mudança. E essa é a opinião de Dilma Roussef que em resposta à imprensa quando questionada sobre o risco de seu passado como militante ser utilizado de forma negativa na campanha eleitoral, afirmou que “o combate ao regime militar representou uma luta pela democracia em que pessoas tiveram a generosidade de enfrentar a morte". Devemos reconhecer essa generosidade e também valorizar o importante papel que Dilma Roussef teve naquele momento da história de nosso país e a importância que terá na continuidade de sua luta por um Brasil melhor.

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